Para levar sua carreira, o seu melhor amigo é o SEU bom senso.
Ninguém precisa comprar bom senso alheio. Como diria Descartes:
O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada, pois cada qual pensa estar tão provido dele, que mesmo os que são mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa não costumam desejar tê-lo mais do que o têm.
~Descartes, em O Discurso do Método
O Óbvio Amaldiçoado.
O bom-senso, na minha opinião, é amigo do óbvio. Usa-se o óbvio para inciar um raciocínio. Parte-se do senso comum, que algo mais universal para explicar e criar conceitos mais complexos. Constrói-se algo sobre ele. E eu gosto muito de partir daquilo que é de comum conhecimento e acrescentar alguma novidade, ou seja, ir construindo um raciocínio. Como exatamente faço neste parágrafo.
Mas JAMAIS se deve finalizar no óbvio: falar o que todo mundo já sabe não adianta de nada.
Um Exemplo Matinal
Todo dia, quando eu ia para o trabalho, eu ligava o rádio. Programa sobre saúde. Todo dia era mais ou menos assim: pergunta genérica e reposta óbvia do Especialista. Exemplo de resposta:
-O ideal é você procurar alimentos mais saudáveis, com a ajuda de um nutricionista. Para a prática de exercícios físicos, começar com uma caminhada leve e aumentando a intensidade com o auxílio de um profissional de educação física.
É ridículo. Veja que ele pode responder isso para qualquer questão e soar correto:
-Estou cortando totalmente os carboidratos. Estou fazendo correto?
-O ideal é você procurar alimentos mais saudáveis, com a ajuda de um nutricionista. Para a prática de exercícios físicos, começar com uma caminhada leve e aumentando a intensidade com o auxílio de um profissional de educação física.
Dá para radicalizar:
-Posso tomar gasolina?
-O ideal é você procurar alimentos mais saudáveis, com a ajuda de um nutricionista. Para a prática de exercícios físicos, começar com uma caminhada leve e aumentando a intensidade com o auxílio de um profissional de educação física.
Agora uma coisa é fato: se uma resposta genérica que responda a qualquer questão pode ser empregada, por não dizer nada do que é óbvio, será que dá para transformar isso em produto?
Ah, dá.
Coaching Tamanho Único
O sujeito nunca leu filosofia. Nunca leu psicologia. Nunca estudou nada sobre comportamento. Aí ele vai lá e em 6 meses vira coaching. Eu resolvi pesquisar vários materiais sobre coaching por aí e quase todos me soaram com várias obviedades:
- Você deve ser mais eficiente
- Você não deve trabalhar até o limite
- Você não deve dar a primeira resposta que vem a mente
- Não haja no impulso
Sério? Contém até a mais clássica das clássicas:
- Você deve se preocupar com sua carreira. O salário é recompensa.
Curioso que usam isso até para quem está prestes a se aposentar, que não tem tempo hábil, a não ser que empreenda e tenha um crescimento súbito, de crescer na carreira (o filme The Intern tem uma cena fantástica neste sentido). Mas e por que, pergunta-se, eles não realmente entram na vida do cara e fazem um coaching decente?
Por que não é bem assim. É muito complicado mexer nos parafusos da cabeça de alguém. Existe gente que dedica uma vida para entender da cabeça dos demais. E ninguém, muito menos os donos de curso em formato de pílula de coaching seria louco de estimular gente despreparada para fazer isso. Aí municiam este mundaréu de coaches com uma planilha e frases padrão.
Ah, claro, depois de coletarem a matrícula.
O que Ninguém Conta…
Ninguém conta o que todo mundo quer evitar saber. Executivos de altíssima performance adoram dizer que trabalham apenas o necessário. Só que este “necessário” tem 16 horas por dia. Modelos e manequins que comem de tudo, bodybuilders que não usam anabolizantes e atletas de elite que não tem nenhuma dor… E por aí vai.
O que tudo isso tem em comum? Apelar para o senso comum, com a resposta que serve a todos os tamanhos. Usa-se o bom senso como ferramenta de esconder algum sacrifício, como ferramenta de tornar a dedicação, o suor e o sacrifício, pequenos.
Costumo perguntar sempre: faz sentido alguém fazer o que todo mundo faz, do mesmo jeito que sempre fez e ainda esperar diferentes resultados? Einstein, o Albert, para uma pergunta parecida, disse ser loucura.
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