Estimar é prever o futuro.

Todo mundo já teve que prever o futuro em seu trabalho. Quando? Ao responder a simples pergunta: “quanto tempo vai levar?”

Esta publicação vem como uma antecipação da parte 5 da série de avaliação de performance em P&D, que será sobre pontualidade.

A Arte de Estimar

Estimar é tipo prever o futuro, com a diferença é que é uma previsão quantificada do que está se prevendo neste futuro. Isso torna esta atividade um tanto quanto complicada, pois embora uma determinada unidade de tempo seja aquela unidade de tempo, a quantidade desta unidade de tempo que uma pessoa acha é diferente do que outra pessoa acha.

Nanossegundos

Um amigo meu, geólogo, estava criticando um filme em que havia magma jorrando pelas ruas, sendo que jamais poderia virar pedra e sim, vidro vulcânico, pois era rápido demais. Eu pensei e me deu um estalo: tempos geológicos eram diferentes; disse:

  • Rápido quanto? Nanossegundos?
  • Hã? Não, uns 200 anos.

Ou seja, uma primeira coisa antes de se estimar algo é ter em mente que todos estão falando da mesma coisa, no mesmo formato e no mesmo tamanho. O tempo normalmente é aquilo que é mais comum em pedidos de estimativa. O segundo é preço. Mas a lista de coisas estimáveis é grande. Costumo listar em “tangíveis”, ou seja, que são medidas de economia ou grandezas físicas:

  • Preço
  • Prazo
  • Distância
  • peso
  • etc

Ou então as mais subjetivas:

  • Complexidade
  • Dificuldade
  • Qualidade

E é justamente nestas que está o problema.

A Opinião Pessoal

Estimativa, seja ela bem embasada ou não, é uma adivinhação. Quem estima acha que o fez com a exatidão que tinha no momento. Mas, como qualquer adivinhação, pode ter sido acertada ou não. A qualidade da estimativa depende muito da precisão esperada por quem recebe esta estimativa, talvez até mais do que quem a fez.

Portanto, como mencionei, depende muito do alinhamento das expectativas.

Mesmo assim, sempre será uma opinião pessoal. É importante ter essa postura: seja para receber ou formular estimativas, é sempre a opinião de alguém.

Como estimar bem?

Essa é uma bala de prata. Não existe um formato exato. Costumo listar 3 fatores que impactam a qualidade de alguma estimativa: gestores devem se atentar a elas para corrigir estimativas do seu time e desenvolvedores devem avaliar como estão se portando com relação a elas. São:

  • Dimensionamento;
  • Proficiência;
  • Pessimismo ou Otimismo.

Dimensionamento

Eu costumo usar uma metodologia que me foi apresentada no Pragmatic Programmer, que também envolve um conceito de ancoragem psicológica. Não adianta estimar projetos que durarão MESES em uma unidade de precisão de DIAS: tal precisão será esperada depois. Ancorado nesta unidade de tempo, o projeto que deveria levar 9 meses é considerado atrasado se entregue 3 dias após o prazo e todos sabem que isso raramente é um problema.

De outra forma, não adianta mensurar em MESES tarefas que durarão algumas HORAS. Passará a impressão errada de que algo demora muito mais do que deveria.

A unidade de medida é sempre muito relevante para fazer estimativas. Basicamente, é usar a mesma unidade de medida que dê boa granularidade mas ainda sim seja representativa frente ao total. Um projeto de meses deve ser medido em… Meses. Uma tarefa de dias deve ser medida em dias. Já tarefas de horas em horas. Simples? Para coisas mensuráveis, sim.

Ainda uma última regra: coisas muito subjetivas devem ser avaliados em algumas graduações por exemplo:

  • Viabilidade: impossível, possível;
  • Complexidade: alta, média, baixa;
  • Carga (de trabalho): Muito, médio, pouco;
  • Dificuldade: Alta, média, baixa.

E sempre devem levar em conta o ponto de vista do profissional a quem destinar-se-á as estimativas. O que é difícil para um profissional experiente pode parecer impossível para um iniciante, por exemplo.

Proficiência

Porém, alguns estudos (Unskilled and Unaware of it, por exemplo) indicam que a avaliação de algum tipo de trabalho dependeria também da proficiência de um indivíduo. Podemos aproveitar este mesmo raciocínio para a qualidade da estimativa de algo por parte de um profissional: quanto mais proficiente ele for, mais preciso será o seu chute.

A única ressalva é com relação ao estado motivacional do indivíduo: se o sujeito está desmotivado, beirando comportamentos antiéticos, é bem possível que sabote suas estimativas, sempre buscando vantagens. Neste caso, é preciso reavaliar muito mais coisas que somente a estimativa.

Pessimismo / Otimismo

Outro fator determinante: Profissionais mais pessimistas tendem a tornar todas as medidas subjetivas mais negativas que o normal. Otimistas tendem a julgar as tarefas mais positivas. Aqui a variedade de perfis tem um impacto extremamente positivo: a realidade andará em algum ponto entre a opinião otimista e a pessimista.

Estimar é Preciso

Dado o grau de complexidade e erro, porque ainda estimamos?

A reposta, é muito simples: porque uma estimativa feita com honestidade, por mais errada que esteja, é melhor que nada.

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Sobre rftafas 183 Artigos
Ricardo F. Tafas Jr é Engenheiro Eletricista pela UFRGS com ênfase em Sistemas Digitais e mestre em Engenharia Elétrica pela PUC com ênfase em Gestão de Sistemas de Telecomunicações. É também escritor e autor do livro Autodesenvolvimento para Desenvolvedores. Possui +10 anos de experiência na gestão de P&D e de times de engenharia e +13 anos no desenvolvimento de sistemas embarcados. Seus maiores interesses são aplicação de RH Estratégico, Gestão de Inovação e Tecnologia Embarcada como diferenciais competitivos e também em Sistemas Digitais de alto desempenho em FPGA. Atualmente, é editor e escreve para o "Repositório” (http://161.35.234.217), é membro do editorial do Embarcados (https://embarcados.com.br) e é Especialista em Gestão de P&D e Inovação pela Repo Dinâmica - Aceleradora de Produtos.
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